terça-feira, 5 de outubro de 2010

Vida e esperança em quatro atos


Quando tudo parece perdido, ainda resta um fio de esperança. Por menor que seja.

Jovem, bonita, charmosa, imponente e perfumada. Cheia de vida, de folhas e de flores tornando mais bonito o ambiente das centenas de pessoas que diariamente chegam ao recinto.
Conhecida popularmente por seus diversos apelidos: Primavera, Três-marias, Buganvília, Buganvile, Sempre-lustrosa, Santa-rita, Ceboleiro, Roseiro, Roseta, Pataguinha, Pau-de-roseira, Flor-de-papel, entre outros.

Primeiro ato
Na sexta-feira 21 de setembro (dia da árvore – chegada da Primavera), ela ostentava seus galhos apontando para o horizonte, toda garbosa, como que acolhendo com ternura os que chegavam ao restaurante no comecinho da estação das flores.
Como diz o jargão: “nem tudo nesta vida são flores”. A natureza tem suas próprias regras e quando a sustentação não é forte o suficiente, os percalços da vida podem trazer grandes surpresas. Isto ocorre com a natureza e afeta os seres de origem animal e vegetal que estão na face da terra. Se os humanos, que raciocinam, prevêem, idealizam, projetam e transformam; usando sua capacidade intelectual para defesa própria e dos semelhantes, às vezes subestimam a força da natureza, um vegetal por mais robusto que possa parecer, está muito mais sujeito às intempéries.

Segundo ato
A noite de sábado 22 de setembro, chegou acompanhada de fortes rajadas de vento investindo impetuosamente sobre a vegetação e em uma dessas, a frondosa Bougainvillea não resistiu e acabou sucumbindo. Embora apoiada por outras vegetações amigas e até mesmo pela estrutura de concreto do prédio, sua ramagem se estatelou no solo, deixando flores espalhadas pela grama.
A altiva planta jazia agora envergonhada, beijando o solo, tronco retorcido e mostrando sem pudor suas raízes que não suportaram a.


Terceiro ato.
Sem chances de recuperar-se e sem forças de reerguer-se, sentindo-se humilhada, não lhe sobrou outra alternativa. Debruçada sobre o solo que sempre a apoiou, aguardava pelo pior. Não demorou muito e o jardineiro munido de um serrote, num vai-e-vem frenético começou a podar-lhes os galhos. Podar dói... dói muito. Mas às vezes é necessário passar por algum momento doloroso, para reavivar as esperanças.
Agora, humildemente recostada à coluna que outrora enfeitava, completamente despida de sua beleza, aguarda com muita esperança que brotem novos rebentos. Isso vai demorar... Refazer-se da dor... demora. Mas esperar é preciso. 

Quarto ato.
Hoje é uma segunda-feira 10 de dezembro de 2007. A Igreja Católica vive o início de mais um Ano Litúrgico. Advento. Tempo de preparação à vinda do Menino Jesus que deve nascer no coração de cada Cristão. Tempo de esperança e conversão. A árvore símbolo do Natal é o pinheiro. Mas, não podemos esquecer a nossa árvore que era linda, foi ao solo, sofreu profundos cortes em suas ramagens... e como que surgindo das cinzas renasce uma nova folhagem... revigorada, fortalecida, como quem quisesse dizer: “eu superei a diversidade... eu vivo”.




Quem sabe, a Bougainvillea nos ensine uma importante lição. A beleza, a riqueza e o orgulho podem facilmente se perderem. A vida está sujeita a muitas intempéries, e a qualquer momento podemos ser podados e sofrer muita dor... dor física ou a dor na alma, quando se refere ao espírito.
E de novo o Jargão: “Qualquer semelhança... não é mera coincidência.”

 Texto e imagens - Osmar Vieira

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