terça-feira, 5 de outubro de 2010

Urutau fora de casa


Na manhã do dia 16 de abril de 2007, os empregados de uma empresa no Bairro Mossunguê em Curitiba foram surpreendidos por um visitante inusitado. E apesar de toda a movimentação de pessoas e veículos a menos de dois metros de distância, a ave permanecia quase inerte. Raras vezes abriu os olhos e mudou de posição.
    O Urutau Nyctibius sp é conhecido pelos sertanejos como ave fantasma, por ser muito difícil visualiza-la durante o dia, por possuir a plumagem na mesma cor dos troncos e dos galhos das árvores. Esse disfarce é uma forma de se proteger dos predadores. Durante o dia a ave não tem nenhuma reação. Permanece o tempo todo de olhos fechados e mesmo sendo tocada não se intimida e continua dormindo profundamente, disfarçada de tronco.
tBoca enorme e olhos grandes é inspiradora dos poetas e trovadores sertanejos. Seu canto triste mais parece gemidos condolentes ecoando pela noite.

“Todo mundo dormindo. Só o chochôrro mateiro, que sai de debaixo dos silêncios e um, ô-ô-ô de urutau, muito triste e muito alto”. (J. Guimarães Rosa, 1956: Grande Sertão: Veredas)

E estes versos do folclore amplamente divulgados no Sul do Brasil:

Urutau canta de noite
Afastando a escuridão
Canto-aviso pra morena
Serenata do sertão
Cunhantã esperançosa
Vê nascer sua paixão

Mãe da Lua encantada
Diz a crença popular
Tuas penas têm magia
O teu canto traz luar
Quem possuiu tal simpatia
Faz o coração amar
Não há uma explicação clara para a presença da ave naquele local, pois, geralmente ela pousa em troncos de árvores onde fica perfeitamente camuflada e protegida. Possivelmente tenha sido atraída por insetos que sobrevoam o local pela forte intensidade das luzes. Como prefere não se locomover durante o dia acabou pousando em um totem aguardando a chegada da noite para alçar vôo.
Coincidência?
Na manhã do dia seguinte (17) um urutau, com as mesmas características foi visto e fotografado por uma funcionária da Infraero no Aeroporto Afonso Pena. Seria a mesma ave? Ela estaria de passagem pela Capital Paranaense? Quem sabe?
 Texto e imagens: Osmar Vieira
Obs.: As duas últimas imagens foram registradas por uma bióloga da Infraero

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