JÁ FUI COBRADOR DE ÔNIBUS
Uma experiência marcante que mudou muitos conceitos para mim.
Depois que briguei
com a minha avó, por causa de um tomate cerejinha, decidi ir embora. Já estava
com 17 anos e não via futuro nenhum trabalhando na lavoura.
Muito chateado, chamei meu saudoso avô comuniquei a ele
minha decisão em caráter irrevogável. Nervoso e gaguejando muito, concluiu que
aquela era uma decisão acertada pra mim. Acho que ele também já estava de saco
cheio comigo.
De manhã cedo, peguei uma carona com o Zé padeiro e fui
parar em Pato Branco. Na casa da tia Maria que me acolheu por ser detentora de
um coração maior do que ela.
Em Laranjeiras do Sul - PR |
E agora, o que fazer com um camaradinha: “mais perdido que
calcinha em noite de núpcias”? Eu mais parecia aquele mineiro perdido que ao
chegar na cidade grande definiu direitinho a sua situação parecida com a minha:
“Não sei onkotô, donkovin e nem poncovô”!
Usando dos seus conhecimentos e a sua influência de amizades
que tinha na sua igreja evangélica, minha tia muito habilidosa começou a
procurar serviços pra mim. Conseguiu com um velho conhecido um trabalho
temporário pra eu ajudar fazer umas
prateleiras na loja do Rozimbo. Em poucos dias o trabalho acabou e lá estava eu
de novo “matando cachorro a grito”. Foi
quando surgiu outra oportunidade, ajudar na pintura de paredes residenciais.
Mas lá também o emprego não demorou muito pra acabar.
Foi quando minha tia conseguiu pra mim uma atividade de
ajudante de calceteiro. Para desempenhar as atividades de puxar terra, pedras irregulares
e paralelepípedos para calçar ruas. Eu ajudei a calçar um trecho da Rua
Tocantins em Pato Branco. Mas foi por pouco tempo. Uma chuvarada prolongada
inviabilizou os trabalhos no calçamento. Foi então que o Tio Elias, homem de
alma boa convidou-me pra buscar alguma atividade em Francisco Beltrão.
Naquela cidade, fui morar em uma república atrás do quartel
do Exército, juntamente com tio Elias, e mais três colegas seus, funcionários
do Departamento de Estradas de Rodagem. E sabem o que eu fazia lá? – Nada. Pela
janela do prédio ficava olhando as atividades dos recrutas.Ria muito quando o
comandante gritava: - Esquerda volver! – e o soldado novo virava pra direita e
dava de frente com o colega.
Em uma manhã de segunda-feira, o Luiz Carlos, um dos colegas
do meu tio, retornou à república onde morávamos para apanhar alguns documentos.
Eu estava lendo meu Pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos. Eu lia muito e me
identificava com o Zezé, personagem do livro.
Luiz Carlos me perguntou se eu gostaria de arrumar um
emprego. Falei que sim, que estava ali pra isso. Então perguntou-me se poderia
ser de cobrador de ônibus. Consenti. Aliás esse era o meu maior sonho. Ser
cobrador de ônibus. Conduziu-me então até à garagem da empresa onde funcionava
também o RH. No meio do pátio estava acocorado o Sr. Orlando, chefee e proprietário
da empresa. O Luiz Carlos cumprimentou e disse-lhe: - Dê emprego de cobrador
pra esse menino! – Orlando olhou pra minha estatura e perguntou: - Tem carteira
profissional e carteira de saúde? – Respondi que sim! – Então começa amanhã.
Foi nessa oportunidade que eu entendi o significado da sigla QI. Não como
Quociente de Inteligência, mas como Quem Indica.
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