terça-feira, 3 de julho de 2018


JÁ FUI COBRADOR DE ÔNIBUS
Uma experiência marcante que mudou muitos conceitos para mim.

Depois que  briguei com a minha avó, por causa de um tomate cerejinha, decidi ir embora. Já estava com 17 anos e não via futuro nenhum trabalhando na lavoura.
Muito chateado, chamei meu saudoso avô comuniquei a ele minha decisão em caráter irrevogável. Nervoso e gaguejando muito, concluiu que aquela era uma decisão acertada pra mim. Acho que ele também já estava de saco cheio comigo.
De manhã cedo, peguei uma carona com o Zé padeiro e fui parar em Pato Branco. Na casa da tia Maria que me acolheu por ser detentora de um coração maior do que ela.
Em Laranjeiras do Sul - PR
E agora, o que fazer com um camaradinha: “mais perdido que calcinha em noite de núpcias”? Eu mais parecia aquele mineiro perdido que ao chegar na cidade grande definiu direitinho a sua situação parecida com a minha: “Não sei onkotô, donkovin e nem poncovô”!
Usando dos seus conhecimentos e a sua influência de amizades que tinha na sua igreja evangélica, minha tia muito habilidosa começou a procurar serviços pra mim. Conseguiu com um velho conhecido um trabalho temporário pra eu ajudar  fazer umas prateleiras na loja do Rozimbo. Em poucos dias o trabalho acabou e lá estava eu de novo “matando cachorro a grito”.  Foi quando surgiu outra oportunidade, ajudar na pintura de paredes residenciais. Mas lá também o emprego não demorou muito pra acabar.
Foi quando minha tia conseguiu pra mim uma atividade de ajudante de calceteiro. Para desempenhar as atividades de puxar terra, pedras irregulares e paralelepípedos para calçar ruas. Eu ajudei a calçar um trecho da Rua Tocantins em Pato Branco. Mas foi por pouco tempo. Uma chuvarada prolongada inviabilizou os trabalhos no calçamento. Foi então que o Tio Elias, homem de alma boa convidou-me pra buscar alguma atividade em Francisco Beltrão.
Naquela cidade, fui morar em uma república atrás do quartel do Exército, juntamente com tio Elias, e mais três colegas seus, funcionários do Departamento de Estradas de Rodagem. E sabem o que eu fazia lá? – Nada. Pela janela do prédio ficava olhando as atividades dos recrutas.Ria muito quando o comandante gritava: - Esquerda volver! – e o soldado novo virava pra direita e dava de frente com o colega.

Em uma manhã de segunda-feira, o Luiz Carlos, um dos colegas do meu tio, retornou à república onde morávamos para apanhar alguns documentos. Eu estava lendo meu Pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos. Eu lia muito e me identificava com o Zezé, personagem do livro.
Luiz Carlos me perguntou se eu gostaria de arrumar um emprego. Falei que sim, que estava ali pra isso. Então perguntou-me se poderia ser de cobrador de ônibus. Consenti. Aliás esse era o meu maior sonho. Ser cobrador de ônibus. Conduziu-me então até à garagem da empresa onde funcionava também o RH. No meio do pátio estava acocorado o Sr. Orlando, chefee e proprietário da empresa. O Luiz Carlos cumprimentou e disse-lhe: - Dê emprego de cobrador pra esse menino! – Orlando olhou pra minha estatura e perguntou: - Tem carteira profissional e carteira de saúde? – Respondi que sim! – Então começa amanhã. Foi nessa oportunidade que eu entendi o significado da sigla QI. Não como Quociente de Inteligência, mas como Quem Indica.

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