sábado, 3 de janeiro de 2015

“Os mar que vem pra bem”


Na escola aprendi que meu nome é um erro de concordância, e que deveria ser: O mar ou Os mares, em se tratando de oceanos estaria correta a ortografia, considerando os efeitos cacofônicos.

Há um dito popular que afirma: “Deus escreve certo por linhas tortas”, eu contesto e reafirmo que Deus escreve certo por linhas certas, pois o mundo me ensinou que há “muitOsmar que vem pra bem”.

Deus pode transformar o mal em bem, a exemplo da história de José, vendido por seus irmãos como escravo e que depois se tornou governante do Egito para salvar não somente seus irmãos, mas toda a casa de Israel da destruição.


Entenda por que um pequeno tomate mudou o destino da minha vida
Nasci no interior de Coronel Vivida, que na época se chamava Barro Preto, num lugarejo do sudoeste do Paraná chamado de Jacutinga, embora no meu registro conste como natural de Chopinzinho. Muito cedo mudamos para Mangueirinha, onde passei toda minha infância e adolescência morando na lavoura em um sítio no interior do Portão, perto do Morro Verde.

Deixei a casa paterna aos 13 anos de idade, por incompatibilidade de gênios com meu velho pai, o professor Oscar, portador da doença do alcoolismo e que faleceu aos 54 anos, embriagado e deixou-nos um grande legado de coisas que não se deve fazer.
Fixei residência na casa dos meus avós maternos dona Ana e o velho Ludovico que me acolheram com toda bondade e carinho. Em troca da morada e a comida eu os ajudava na lavoura, arando, plantando, colhendo e ajudando na lida da roça.

Numa manhã de sábado, dia limpo, bem cedinho atrelei a junta de bois no arado e fui pra lida. Ao chegar no local onde iria preparar a terra me deparei com um lindo pé de tomate cerejinha que nascera espontaneamente justamente no local onde passaria com o arado. Como estavam maduros, colhi-os e guardei sob um sombreiro. 

Por volta das 10h da manhã, como o sol já estava quente e pra não judiar dos bois, coloquei os tomates no chapéu de aba larga e voltei pra casa. Antes de tirar a canga dos bois passei em casa e deixei sobre a mesa o chapéu cheio de tomatinhos vermelhos. Soltei os animais no pasto, guardei o “arriame” e estava entrando na cozinha com a goela seca de vontade de tomar um chimarrão. 

Minha avó uma italiana daquelas que quando falava fazia tinir as panelas penduradas no paneleiro, estava fazendo polenta. Morava temporariamente na casa da vó, uma garotinha de uns quatro ou cinco anos de idade que teve a péssima ideia de apanhar um daqueles tomatinhos que tão sofregamente eu trouxera, colocar no assoalho e pisotear sobre ele transformando-o numa meleca. 

No exato momento em que pisei o degrau da escada, ouvi os impropérios da minha avó numa frase que até hoje retumba nos meus ouvidos: “Não sei por que trazem essas merdas pra dentro de casa, só pra fazer sujeira”! Fiquei paralisado com o que ouvi. Minha avó; chamara de merda os tomatinhos que eu havia colhido com tanto carinho e trazido para ajudar na culinária. 

A “Véia Ana” estava indignada, não com a menina que esmagou o fruto no assoalho, mas comigo por que havia recolhido e imaginado ter feito uma boa ação. Aquilo doeu mais que uma cacetada, doeu na alma. Estragou o meu dia. Não entrei em casa. Saí, não almocei, voltei pra lavoura catei algumas folhas verdes e pepinos pra saciar a fome. Voltando à noite não jantei, deitei mas não dormi. Estava emburrado e muito triste. Pensei, chorei e decidi: Vou embora daqui. 
Luiz Baranóski - Ludovico

Agi pela emoção e não pela razão. Na segunda de manhã, chamei meu avô, conversamos e falei pra ele da minha decisão. Meio relutante me apoiou. No dia seguinte peguei carona na Kombi do seu José, um padeiro evangélico que distribuía pães em Mangueirinha e Região e fui embora pra Pato Branco, onde fui muito bem acolhido pela saudosa tia Maria. Nessa cidade enfrentei as mais duras penas. Menor de idade, sem profissão e sem estudos. Não fosse a bondade dos tios Maria e Elias e a minha fé, menor que um grão de mostarda, eu poderia ter entrado por caminhos tortuosos. Mas esse é um capitulo que contarei oportunamente.

Meu saudoso avô Ludovico faleceu atropelado em Dois Vizinhos e minha avó faleceu alguns anos depois na mesma cidade.

Por quê Osmar que vem pra bem?

Numa oportunidade eu proferia uma palestra para um grupo da terceira idade. Ao término, conversando com algumas pessoas dentre elas uma senhora de uns 70 anos de idade lhe perguntei por que aquele galho de arruda atrás da sua orelha esquerda? De pronto ela me respondeu num caipireis coloquial: “Isso aqui é pra espantá os mar!”. Não tive dúvidas... garrei o trecho.

4 comentários:

  1. Linda história meu compadre irmão! Suas qualidades sempre foram superiores a tudo!!! Conte mais!. Deusntr abençoe!

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  2. Sempre espirituoso, faz de um limão uma limonada e inspiração para novos sucos.

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