quinta-feira, 5 de julho de 2018


BLOGGER PARTILHADO
Shirlei Noveletto - Administradora de empresa
Vou partilhar meu espaço aqui com alguém muito especial. Minha filha, Shirlei Noveletto, aquela menina que nasceu no banco traseiro de um fusca da Copel e que teve seu pai como parteiro. Pedi a ela que publicasse algumas crônicas, uma vez que ela se expressa muito bem, característica de quem lê bastante.
Vai lá, minha filha!
Agora é contigo.

E O QUE VOCÊ TEM POR DENTRO???? 
 E quando a vi adentrando o salão de festas, com seu luxuoso vestido azul, me encolhi na cadeira, conseguia ver a ponta de seus sapatos importados, reluzindo a cada passo que dava, escondi meus pés debaixo da mesa... Ela tinha em seus pulsos adereços de prata e um colar de esmeralda enfeitava seu colo... e eu tinha apenas os brincos pequenos de pérola herdados de minha avó... Seus cabelos soltos lembravam o por do sol... de um avermelhado quase
natural... senti-me envergonhada pelo coque simples que tinha feito minutos antes... Quando se aproximou, o seu perfume tomou conta do ambiente, o mesmo cheiro das rosas de meu jardim... desejei que ela não me cumprimentasse, para que eu não precisasse expor minhas mãos calejadas e as unhas sujas de terra... Ela apenas sorriu, seus dentes eram brancos e enfileirados... lembrei-me das constantes dores de dente que eu tinha, e como foi difícil me adaptar a dentadura... Era estranho, mas ao observá-la bem, percebi que apesar do brilho de suas jóias, seus olhos eram apagados, não tinham vigor, como se estivessem ali somente para tampar-lhe os buracos da face... e me recordei da velha frase proferida tantas vezes por meu pai: “os olhos são a janela da alma” E o que eu via em seus olhos era uma alma vazia... Senti-me, então, um pouco
mais confiante, não por ter descoberto as fraquezas daquela mulher, mas por saber que de alguma maneira estávamos em pé de igualdade, pois o brilho que ela trazia por fora... eu carregava por dentro... E orgulhei-me do meu vestido surrado, dos meus sapatos simples, apalpei meus brincos pequenos e alinhei-me na cadeira... coloquei minhas mãos sobre mesa, deixando de lado a vergonha que senti a poucos instantes... afinal, eu adorava mexer com a terra, e meus calos representavam meu esforço... E desde então, não me envergonho do que trago por fora... orgulho-me do sou e das escolhas que me trouxeram até aqui...

Nenhum comentário:

Postar um comentário