Eu deixei a porta
entreaberta, era a forma que encontrei de te dizer que você poderia voltar;
sentei no sofá laranja, me recordando do quanto nos divertimos colorindo a
nossa casa... cada detalhe contava nossa história, e olhando para as paredes eu
chorei a tua ausência.
Quando você
atravessou aquela porta, um pedaço de mim também foi embora, eu desaprendi a
andar na rua sozinha, suas mãos me fazem falta, o lugar vazio na mesa me tira a
fome, e dormir tem sido difícil, o lugar vago ao meu lado me fez entender que
eu te amava bem mais do que eu sabia.
Eu guardei nas
gavetas vazias que você deixou, os porta-retratos das nossas últimas viagens,
gostaria de poder fazer o mesmo com minhas lembranças, mas ainda não inventaram
gavetas pra guardar as memórias dos dias felizes... esses dias não consegui
resistir, e acabei folheando o nosso álbum de casamento, e mentalmente repeti
as juras de amor eterno que você não conseguiu cumprir.
Levei um tempo para
lavar os lençóis, de alguma forma me recusava a tirar seu cheiro de perto de
mim, ou pelo menos o que restou dele, no travesseiro que você se esqueceu de
levar.
Chorei de novo,
encolhida no sofá laranja, pela fresta da porta, apenas o vento frio das noites
que em claro eu passaria...
• Eu vi cada
conquista nossa, tornando-se apenas objetos, os móveis já não eram suficientes
pra preencher os espaços, o vazio tomava conta, e as janelas eu nunca mais
abri, porque eu sabia que nem mesmo o sol seria capaz de me tirar da
escuridão... era como se aquela história não fosse mais minha, a dor tem uma
capacidade imensa de apagar os registros, aqueles que achei que estariam pra
sempre impressos em mim...
Eu olhei novamente
pela fresta da porta, não mais esperando você entrar, mas tomando coragem pra
sair.
Ontem a vizinha da
frente me ligou, disse que você esteve procurando por mim... mas o sofá laranja
não era mais suficiente, eu já não cabia mais nele, assim como você já não cabe
em mim.
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