Eu nunca vi... mas que ngeste, ingeste!
Na
década de 1.990 surgiu nas mídias populares do Paraná, de forma sensacionalista
com grande repercussão, os ataques de um animal apelidado de “chupa-cabra”. Se
caracterizava por atacar animais de pequeno porte, principalmente as aves.
Lembro
que em uma das entrevistas concedidas ao programa de um apresentador que leva o
nome de um pequeno roedor, o repórter perguntou a um senhor do interior se ele
acreditava na existência do “chupa-cabras”, meio confuso a resposta dele foi
bem honesta: - Eu nunca vi... mas que
ingeste, ingeste!
Pois
eu afirmo categoricamente que assombração ou visagem existe. Eu vi com estes
meus olhos cor de caramelo, que um dia os vermes irão comer, depois que eu
morrer claro!
Em
dois episódios distintos, ocorridos no interior de Mangueirinha, Sudoeste do Paraná, que segundo meu falecido tio
Demétrio, o Monge João Maria profetizou que um dia aquela cidade haveria de: “anoitecer
pessoal e amanhecer porungal”. – Que trágico!
-
Numa tarde de sexta-feira, coloquei os arreios no lombo da égua baia, mansa,
mais “bardosa”, muito mal acostumada. Coloquei umas duas quartas de milho, a
falecida mãe me ajudou, nos “apeiros” pra fazer fubá no moinho do tio Demétrio,
o mesmo que falou da profecia do Monge que eles consideravam
como São João
Maria. O saudoso tio era viúvo, e tinha se juntado com uma mulher de nome Maria,
nova e bem “infunchada”. Ele se gabava que já tinha ficado com sete Marias. Ele
era papudo literalmente, tinha um papo no lado esquerdo do pescoço, diziam que
não era bócio, mas uma rendidura.
Minha ideia era chegar bem de tardinha pra dormir na casa do tio e jantar lá com ele
e de manhã cedo, enquanto ele triturava o milho eu ia pegar uns lambaris no Rio
Vila Nova que na época era bem piscoso. Me falaram que hoje só tem duas
espécies de cardumes de origem oriental: “Toroço e Borosta”, depois carregar a
farinha, voltar pra casa e comer uns lambaris com polenta.
Mas
o “disgramado” do velho, tinha outra intenção. Eu acredito que ele já havia
ideado um programa com a dona Maria e que eu poderia estragar os planos.
Mais que depressa ele trocou o milho por uma proporção de fubá jogou no lombo
da égua e me fez marchar de volta pra casa, cerca de uns seis quilômetros.
Evidentemente
já era noite quando saí do Moinho Vila Nova, com uma grande preocupação... eu
teria que passar, na metade do caminho, ao lado de três palmeiras há beira da
estrada exatamente onde o Manuel, genro do Pauluk tinha sido assassinado
recentemente. Me deu uns três tipos de medo. Eu deveria ter uns nove ou dez
anos, mas... muito corajoso.
A
medida que ia retornando pra casa, ia anoitecendo, e aumentando a preocupação
do que me esperava nas três palmeiras de jarivá onde tombou morto a tiros o
falecido Manuel. Era uma noite enluarada e quando chegamos frente às palmeiras,
eu rezava pra não aparecer assombração a égua refugou e não queria avançar. Por
mais que a instigasse, o animal queria retornar do caminho. Bati com o relho de
couro trançado, mas ao invés de avançar, ela empinou quase derrubando eu e a
moagem.
O
único jeito, e pra não deixar o animal mal acostumado, apeei e puxei pelas
rédeas. Mesmo assim ela travou, refugou e não foi. Deixei as rédeas no chão e
comecei a andar a pé, pra ver se encontrava algum animal, que fosse a causa da
recusa da Baia continuar sua trajetória até em casa. Fui negaceando e percebi
que havia um vulto próximo às palmeiras. Não dava para discernir se era algum
animal, uma miragem, ou uma assombração... Vi que se mexia. Inverti o relho,
segurando pelos tentos enrolado na mão até próximo ao cabo e com toda fé, e
coragem que eu possuía, fui avançando e o vulto balançava de um lado para
outro... nem preciso dizer que me arrepiava todos os pelos desde a sola do pé,
até a “cucuruta” da cabeça. Chegando bem perto, o mistério foi desvendado. Não
era um tigre, nem uma vaca, nem um cavalo, muito menos um porco... a
assombração que assustava minha égua baia, não passava de uma moita de capim,
desses cujas flores servem para se fazer travesseiros, acolchoados e similares.
Com o vento de verão, a moita de capim se balançava dando a impressão de ser um
monstro. “Só por Deus, mesmo!”
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