quarta-feira, 24 de abril de 2019

ACREDITO EM ASSOMBRAÇÃO



Eu nunca vi... mas que ngeste, ingeste! 

Na década de 1.990 surgiu nas mídias populares do Paraná, de forma sensacionalista com grande repercussão, os ataques de um animal apelidado de “chupa-cabra”. Se caracterizava por atacar animais de pequeno porte, principalmente as aves.
Lembro que em uma das entrevistas concedidas ao programa de um apresentador que leva o nome de um pequeno roedor, o repórter perguntou a um senhor do interior se ele acreditava na existência do “chupa-cabras”, meio confuso a resposta dele foi bem honesta: - Eu nunca vi... mas que ingeste, ingeste!


Pois eu afirmo categoricamente que assombração ou visagem existe. Eu vi com estes meus olhos cor de caramelo, que um dia os vermes irão comer, depois que eu morrer claro!
Em dois episódios distintos, ocorridos no interior de Mangueirinha, Sudoeste  do Paraná, que segundo meu falecido tio Demétrio, o Monge João Maria profetizou que um dia aquela cidade haveria de: “anoitecer pessoal e amanhecer porungal”. – Que trágico!

- Numa tarde de sexta-feira, coloquei os arreios no lombo da égua baia, mansa, mais “bardosa”, muito mal acostumada. Coloquei umas duas quartas de milho, a falecida mãe me ajudou, nos “apeiros” pra fazer fubá no moinho do tio Demétrio, o mesmo que falou da profecia do Monge que eles consideravam

como São João Maria. O saudoso tio era viúvo, e tinha se juntado com uma mulher de nome Maria, nova e bem “infunchada”. Ele se gabava que já tinha ficado com sete Marias. Ele era papudo literalmente, tinha um papo no lado esquerdo do pescoço, diziam que não era bócio, mas uma rendidura.



Minha ideia era chegar bem de tardinha pra dormir na casa do tio e jantar lá com ele e de manhã cedo, enquanto ele triturava o milho eu ia pegar uns lambaris no Rio Vila Nova que na época era bem piscoso. Me falaram que hoje só tem duas espécies de cardumes de origem oriental: “Toroço e Borosta”, depois carregar a farinha, voltar pra casa e comer uns lambaris com polenta.

Mas o “disgramado” do velho, tinha outra intenção. Eu acredito que ele já havia ideado um programa com a dona Maria e que eu poderia estragar os planos. Mais que depressa ele trocou o milho por uma proporção de fubá jogou no lombo da égua e me fez marchar de volta pra casa, cerca de uns seis quilômetros.

Evidentemente já era noite quando saí do Moinho Vila Nova, com uma grande preocupação... eu teria que passar, na metade do caminho, ao lado de três palmeiras há beira da estrada exatamente onde o Manuel, genro do Pauluk tinha sido assassinado recentemente. Me deu uns três tipos de medo. Eu deveria ter uns nove ou dez anos, mas... muito corajoso.


A medida que ia retornando pra casa, ia anoitecendo, e aumentando a preocupação do que me esperava nas três palmeiras de jarivá onde tombou morto a tiros o falecido Manuel. Era uma noite enluarada e quando chegamos frente às palmeiras, eu rezava pra não aparecer assombração a égua refugou e não queria avançar. Por mais que a instigasse, o animal queria retornar do caminho. Bati com o relho de couro trançado, mas ao invés de avançar, ela empinou quase derrubando eu e a moagem.

O único jeito, e pra não deixar o animal mal acostumado, apeei e puxei pelas rédeas. Mesmo assim ela travou, refugou e não foi. Deixei as rédeas no chão e comecei a andar a pé, pra ver se encontrava algum animal, que fosse a causa da recusa da Baia continuar sua trajetória até em casa. Fui negaceando e percebi que havia um vulto próximo às palmeiras. Não dava para discernir se era algum animal, uma miragem, ou uma assombração... Vi que se mexia. Inverti o relho, segurando pelos tentos enrolado na mão até próximo ao cabo e com toda fé, e coragem que eu possuía, fui avançando e o vulto balançava de um lado para outro... nem preciso dizer que me arrepiava todos os pelos desde a sola do pé, até a “cucuruta” da cabeça. Chegando bem perto, o mistério foi desvendado. Não era um tigre, nem uma vaca, nem um cavalo, muito menos um porco... a assombração que assustava minha égua baia, não passava de uma moita de capim, desses cujas flores servem para se fazer travesseiros, acolchoados e similares. Com o vento de verão, a moita de capim se balançava dando a impressão de ser um monstro. “Só por Deus, mesmo!”


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